Você já ouviu falar em crianças que passam horas falando sobre dinossauros, trens ou personagens específicos, com uma atenção quase inabalável? Esse tipo de interesse intenso pode levantar dúvidas: estamos diante de um hiperfoco ou de um comportamento restrito? Embora os dois termos sejam parecidos à primeira vista, eles têm implicações diferentes, principalmente no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Neste artigo, vamos explorar o que caracteriza cada um desses comportamentos, como diferenciá-los na prática e, principalmente, de que forma a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) pode oferecer suporte para que esses interesses sejam trabalhados de maneira funcional, respeitosa e construtiva no desenvolvimento da criança.
Diferença entre Hiperfoco e Comportamento Restrito
O hiperfoco pode ser definido como uma intensa concentração em um assunto ou tarefa específica, muitas vezes a ponto de a criança demonstrar grande entusiasmo, foco e resistência a interrupções. Esse comportamento é comum em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas também pode aparecer em outros contextos.
Por outro lado, os comportamentos restritos e repetitivos abrangem um conjunto mais amplo de ações e interesses rígidos, como, por exemplo, as rotinas fixas, que podem reduzir a flexibilidade da criança em suas interações sociais, brincadeiras e aprendizagens.
Embora os dois comportamentos possam parecer semelhantes à primeira vista, eles têm origens, funções e impactos diferentes no desenvolvimento infantil.
Como a ABA entra em cena?
A proposta da ABA não é eliminar os interesses da criança, mas utilizá-los como ferramenta para ensinar, ampliar repertórios e aumentar a flexibilidade.
Veja como isso funciona na prática:
1. Usar o interesse como motivação
Se a criança ama trens, por que não usar um trem como reforço em atividades de linguagem, atenção conjunta ou socialização?
➡ ️ A aprendizagem se torna mais divertida, eficaz e significativa.
2. Ampliar o repertório aos poucos
Se o interesse é exclusivo por um carro vermelho, o terapeuta pode, aos poucos, apresentar o azul, o caminhão, o ônibus e outros brinquedos para aumentar o repertório.
➡ Assim, a criança pode aprender novos estímulos sem experienciar frustrações ou rupturas.
3.Ensinar a variar contextos
Ama mapas? Ótimo! Vamos mostrar que eles também aparecem em livros, jogos, vídeos e até atividades ao ar livre.
➡ ️ Isso ajuda a generalizar o interesse e a não limitar o conteúdo a um só ambiente.
A ABA é uma ciência que tem como o objetivo o ensino de habilidades socialmente relevantes e, aplicada com respeito à individualidade de cada estudante, é uma grande aliada na jornada do desenvolvimento.
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Referências:
NASCIMENTO, Thais Almeida do; PROMMERSCHENKEL, Valquíria Brommenschenkel; SANTOS, Maria Betânia Cavalcante Silva. Hiperfoco como caminho para o aprendizado e inclusão de alunos com autismo. Revista Semap, Vitória, v. 11, n. 1, p. [1–14]*, 2023. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/semap/article/view/42478.
SILVA, Antonio Luiz da. Comportamento estereotipado no Transtorno do Espectro Autista: alguns comentários a partir da prática avaliativa. Revista Psicologia em Pesquisa, Juiz de Fora, 2020.