Inclusão escolar de crianças autistas

 

A inclusão escolar de crianças autistas é um direito instituído por lei (Lei Berenice Piana) em nosso país, sendo garantido após décadas de discussões acerca do assunto. Toda criança deve ter acesso à escola comum, incluindo, assim, aquelas que apresentam dificuldades e diferenças. 

O princípio básico das escolas inclusivas baseia-se no fato de que todos os alunos devem aprender juntos, independentemente de cor, sexo, religião, condição financeira, social ou intelectual. Cabe à escola atender às diversas necessidades de seus alunos, de modo a fazer adaptações curriculares eficientes que venham a garantir uma excelente educação para cada um deles. 

Para Nunes, Azevedo e Schmidt (2013), a escola é um ambiente propício para o desenvolvimento de novas aprendizagens e comportamentos, especialmente nos casos de crianças com TEA, ao passo que nela acontecem experiências sociais importantes provenientes da interação dos pares.

Para além das questões acadêmicas, que podem ser estruturadas para melhor aprendizagem do aluno com TEA em sala de aula, esse é um contexto rico para o desenvolvimento de habilidades comunicativas e do brincar.

Ao participar da brincadeira de pega pega no recreio, por exemplo, a criança terá de seguir as instruções do jogo, interagir diretamente com os amigos e emitir respostas, sejam elas vocais ou não. Para o caso de crianças não vocais, podem ser planejadas estratégias alternativas de comunicação, por meio de cartões ou imagens ou textos, com o objetivo de sinalizar que “você foi pego” ou “sua vez”.

Profissionais das áreas da Pedagogia e Psicologia têm se debruçado cada vez mais no estudo dos processos inclusivos, a fim de garantir melhores condições de ensino para estudantes com demandas educacionais específicas. 

Aumenta o número de crianças autistas nas escolas regulares

A presença de alunos autistas em escolas regulares vem aumentando consideravelmente. Isso se dá sobretudo pelas leis que asseguram  e popularizam o processo de inclusão, mas também pela extinção das escolas especiais (Nunes, Azevedo e Schmidt, 2013).

De acordo com a reportagem publicada no G1, baseado no Censo Escolar anualmente divulgado pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o número de estudantes com TEA devidamente matriculados em salas de aula comuns aumentou 37,27% em um ano, levando em consideração a rede pública e particular de ensino. Ou seja, 28.740 crianças autistas passaram a frequentar classes comuns no ano de 2018.

Apesar de notória a mudança quanto às políticas voltadas para a educação inclusiva, com a inserção de pessoas com TEA e/ou deficiência dentro das escolas regulares e investimento em recursos de acessibilidade, não é de todo certo dizer que os problemas estão resolvidos. 

A inclusão escolar é um processo complexo e, por isso, desafiador

É preciso compreender que o fato dos alunos estarem em salas de aula comuns é apenas o primeiro passo, faz-se necessário ainda garantir a permanência efetiva nesse espaço. Para isso, outros fatores são de extrema importância para a inclusão escolar de crianças autistas:

  • A adequação do espaço físico de forma a assegurar a acessibilidade;
  • A formação continuada de professores, a fim de entender a fundo as características apresentadas por pessoas que estão dentro do TEA, bem como as estratégias pedagógicas que podem facilitar a aprendizagem;
  • Avaliações específicas que resultam na elaboração de um Plano de Ensino Individualizado (PEI).

O PEI consiste numa ferramenta norteadora para a prática do professor e planejamento das atividades escolares dos estudantes. Aqui serão propostas e descritas metas de curto, médio e longo prazos que, por sua vez, impactam diretamente no sucesso, por assim dizer, da inclusão da criança com TEA no modelo de ensino regular.

Parra (2009, apud NUNES, AZEVEDO, SCHMIDT, 2013) ressalta um outro fator pertinente à inclusão escolar, sendo ele o acompanhamento terapêutico. O Acompanhante Terapêutico (AT) pode ser indicado em alguns casos e seu papel dentro da escola é de auxiliar as crianças com autismo em suas demandas cotidianas, visando promover a independência e autonomia, inserindo-as no convívio social com a comunidade escolar e com os pares.

O AT também pode assessorar o professor quanto à questões específicas do aluno que acompanha, explicando a função de alguns comportamentos realizados pela criança e fazendo orientações para que a conduta seja a mais adequada possível. Muitos profissionais da área trabalham com intervenção baseada em Análise do Comportamento Aplicada (Terapia ABA), bastante eficaz nos casos de autismo.

A escola como espaço decisivo para a formação dos alunos

Mantoan (2015) afirma que as escolas são espaços estruturados que estimulam o convívio e aprendizado dos indivíduos e, assim, a educação passa a ter uma função decisiva na formação integral de cada aluno, ao passo que potencializa capacidades e habilidades. Ressalta ainda que cabe à escola promover mudanças significativas e estruturais para acolher as necessidades de todo e qualquer estudante, e não o contrário. 

“(…) O mote da inclusão, ao contrário, é de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo da vida escolar.” (Mantoan, 2015, p. 28).

A escola inclusiva é aquela que considera toda e qualquer necessidade dos alunos, tendo desenvolvimento atípico ou não, e se adapta para atendê-las. A inclusão implica diretamente a qualidade de ensino das escolas, ao passo que nenhum aluno pode ter experiências de fracasso.

REFERÊNCIAS:

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar – O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Summus, 2015.

NUNES, D; AZEVEDO, M; SCHMIDT, C. Inclusão educacional de pessoas com autismo no Brasil: uma revisão da literatura. Revista Educação Especial. v. 26, n. 47, p. 557-572, set./dez. 2013.

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