O que são operantes verbais?

 

Quando somos muito pequenos, aprendemos a nos comunicar e descobrimos, aos poucos, como a linguagem funciona. Aprendemos, por exemplo, que as palavras podem nos dar acesso a itens que desejamos ou até mesmo a atenção das pessoas que estão próximas a nós. 

De acordo com Greer e Ross (2008), tais palavras vão se tornando ferramentas fundamentais, e essas ferramentas consistem em comportamentos que afetam ouvintes e falantes.

O comportamento verbal é o elemento essencial da aprendizagem humana e, para  B. F. Skinner (1957),  é um comportamento operante, cuja consequência para o comportamento do falante (quem emite a mensagem) é produzida pelo comportamento do ouvinte (quem recebe a mensagem). Desta forma, o comportamento verbal é aquele cujo reforçamento é mediado por outra pessoa. 

No livro Comportamento Verbal (1957), B. F. Skinner propõe uma abordagem teórica das funções da linguagem e identifica, assim, os operantes verbais. 

Skinner propôs um sistema de classificação para descrever algumas das contingências mais frequentemente envolvidas na emissão do comportamento verbal e cada uma delas foi chamada de um operante verbal (Santos, Santos & Marchezini-Cunha, 2012). 

Os principais operantes verbais são: ecoico, mando, tato, intraverbal, textual e transcrição. Além desses, há o autoclítico como um operante verbal secundário.

Os operantes verbais são classificados conforme as condições de estímulos antecedentes (verbais ou não verbais) e consequentes (específicos ou generalizados) que controlam cada resposta.

ECOICO 

Importante quando as crianças estão começando a emitir palavras e no aprendizado de um novo idioma, o ecoico acontece quando um falante emite uma resposta vocal com correspondência ponto a ponto com o estímulo vocal de outra pessoa. 

Um bom exemplo é quando, em um contexto de ensino, o terapeuta diz “repita depois de mim: gato” e a criança repete, ponto a ponto: “gato”.

Com base em Santos, Santos & Marchezini-Cunha (2012), a consequência do comportamento ecoico é chamada por Skinner de “educacional”, sendo, nesse caso, um reforço generalizado.

TATO 

O tato ocorre sob controle de estímulos não verbais como um objeto ou uma figura. A resposta emitida é controlada por um estímulo antecedente específico não verbal e produz como consequência um reforço condicionado generalizado ou estímulos reforçadores não específicos. 

​​Ao emitir um tato, o falante está descrevendo ou nomeando objetos, eventos, sensações, imagens, etc. O tato é muito importante, uma vez que envolve respostas de autodescrição e de descrição de contingências.

Um bom exemplo é quando, em um contexto de ensino, o terapeuta apresenta a imagem de uma bola e a criança fala “bola”. Após o acerto, a resposta da criança é consequenciada com um elogio (¨muito bem!”).

MANDO 

O mando ocorre sob controle de condições específicas de privação ou da presença de estimulação aversiva e é reforçado pela obtenção do estímulo alvo ou pela remoção de um estímulo.  

É por meio do mando que as pessoas são capazes de fazer pedidos, formular perguntas, dar conselhos e avisos, solicitar a atenção de alguém, identificar reforços necessitados pelas por outros etc. 

Um bom exemplo é quando a pessoa,  sob controle de privação de água (sede), aponta a água ou fala “me dá água” e recebe um copo de água.

INTRAVERBAL

O intraverbal é controlado por um estímulo discriminativo verbal, podendo ser vocal ou escrito. O estímulo verbal é a ocasião para que determinada resposta verbal seja emitida, sem correspondência ponto a ponto, e essa resposta é mantida por um estímulo reforçador generalizado.

Para Santos, Santos & Marchezini-Cunha (2012), o comportamento intraverbal é de extrema importância nas interações sociais (cumprimentos, conversas, descrições de uma história, dentre outros) e na aquisição de habilidades acadêmicas (responder perguntas, contar, etc).

Um bom exemplo é quando, em contexto de ensino, o terapeuta apresenta a questão “cinco mais cinco é igual a…” e a criança responde “dez”. Diante da resposta correta, o terapeuta fala “muito bem!”

TEXTUAL 

No operante verbal textual a resposta verbal do leitor (falante) é controlada pelo texto. O estímulo antecedente é um estímulo verbal escrito ou impresso e a resposta é verbal vocal. Há entre o estímulo e a resposta uma correspondência formal, arbitrariamente estabelecida, e a consequência é um reforço generalizado.

O comportamento textual gera repertórios de unidades comportamentais da fala e da leitura. Esse comportamento pode ser favorável por colaborar com a emissão de outros operantes.

Um bom exemplo é quando, diante da palavra escrita ou impressa “bola”, a criança fala “bola”. Após o acerto, o terapeuta faz um elogio (¨muito bem!”).

TRANSCRIÇÃO

Na transcrição, tem-se um estímulo verbal que pode ser sonoro ou escrito e uma resposta verbal, que é sempre escrita. Esse operante verbal ocorre em duas modalidades diferentes: a cópia ou o ditado. A cópia e o ditado são muitas vezes realizados na escola, especialmente nas séries primárias.

Na cópia, o estímulo verbal é escrito e a resposta verbal é escrita. Um bom exemplo é quando o aluno lê a palavra “casa” e escreve “casa”. Nesse caso, há similaridade formal entre o estímulo e a resposta. 

No ditado, o estímulo verbal é sonoro e a resposta verbal é escrita. Um bom exemplo é quando o aluno, ao ouvir a palavra “bola”, escreve “bola”. A consequência é um reforçador generalizado, sendo chamado também de reforço educacional.

AUTOCLÍTICO 

Para Santos e Souza (2017), o operante verbal autoclítico é descrito como secundário, uma vez que sua função depende dos operantes verbais primários acima mencionados. 

O autoclítico é um operante verbal que age sobre outro operante verbal (primário) do falante, transformando-o e/ou rearranjando-o, de forma a modificar a reação do ouvinte. 

Ele não envolve apenas palavras, pois podem gerar controle sobre o ouvinte através de expressões faciais, um tom de voz específico, gestos etc.

Os tipos de comportamento autoclítico descritos por Skinner são: descritivo, qualificador, quantificador, relacional e manipulativo.

REFERÊNCIAS:

Greer, R. Douglas; Ross, Denise E. Análise do Comportamento verbal: introduzindo e expandindo novas capacidades em crianças com atraso de libguagem / R. Douglas Greer, Denise E. Ross; tradução Ariela Oliveira Holanda, Anna Beatriz Müller Queiroz. 1. ed. São Paulo: Memmon Edições Científicas, 2021-22. 

Santos, Bruna C.; Souza, Carlos B. Comportamento Autoclítico: Características, classificações e implicações para a Análise Comportamental Aplicada. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Volume XIX n. 4, 88 – 101. 

SANTOS, Ghoeber M.; SANTOS, Maxleila R.; MARCHEZINI-CUNHA, Vívian. Operantes verbais. In: Borges, Nicodemos B.; Cassas, Fernando A; et al. Clínica Analítico-Comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012. 

Skinner, B. F. (1957, 1992). Verbal Behavior. Action: Copley Publishing Group.