Atendimentos presenciais ou intervenções online?

Com a necessidade de retomar gradualmente os atendimentos presenciais, profissionais que atuam com intervenção baseada em Análise do Comportamento Aplicada (ABA – Applied Behavior Analysis) ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) devem se assegurar da urgência do retorno, levando em consideração a demanda de cada caso, bem como dos cuidados básicos para a manutenção de sua segurança e de seus atendidos. Análise do Comportamento Aplicada ao TEA De acordo com Cooper, Heron, & Heward (1989 apud BRAGA-KENYON, KENYON & MIGUEL, 2005) a intervenção em ABA tem como objetivo o ensino de repertórios que são socialmente relevantes para o indivíduo e a redução de comportamentos problema. De uma forma geral, pessoas com autismo apresentam a ausência desses repertórios relevantes, seja nos aspectos sociais, acadêmicos ou de vida diária e excessos comportamentais como, por exemplo, auto e heteroagressão, estereotipia etc (Braga-Kenyon, Kenyon & Miguel, 2005). Tais comportamentos podem dificultar, por assim dizer, a aprendizagem de habilidades importantes. Vale salientar que, por ser um espectro, pessoas com autismo podem apresentar diversas formas e diferentes níveis do transtorno e, por isso, é preciso de avaliação e um plano educacional individualizado. Se tratando de uma intervenção intensiva, as sessões de terapia com base em ABA podem ter uma carga horário semanal elevada, podendo contabilizar de 20 a 40 horas, sendo realizadas por aplicadores que, em sua maioria, atuam no ambiente natural do atendido. Terapia ABA durante a pandemia de COVID-19 Em muitos casos a prestação de serviço em ABA para pessoas com TEA pode ser considerada como um serviço essencial em tempos de COVID-19, quando levada em consideração a gravidade do transtorno. Segundo Canovas, Cruz & Andrade (2019) existem casos em que a suspensão dos atendimentos presenciais podem causar riscos e prejuízos significativos aos atendidos e seus familiares, muitas vezes quando diz respeito ao agravamento dos comportamentos problema, especialmente auto e heteroagressivos, e perda de habilidades básicas aprendidas em terapia. Diante desse contexto, onde os dados do COVID-19 oscilam diariamente e não há vacina disponível para a população, os profissionais que atuam no atendimento à pessoas com TEA e outros transtornos do desenvolvimento se encontram em um dilema: retomar os atendimentos presenciais ou dar continuidade as intervenções por via remota (serviços de saúde à distância). Canovas, Cruz & Andrade (2019) afirmam que autores da Análise do Comportamento, diante de dilemas éticos, levantam a importância de se fazer uma análise de riscos X benefícios, a fim de que o profissional consiga tomar uma decisão ética e assertiva, considerando o bem estar dos atendidos e de seus familiares. Bailey e Burch (2016 apud CANOVAS, CRUZ & ANDRADE, 2019) ressaltam que essa análise abrange a avaliação geral dos fatores de risco para o tratamento; a avaliação dos benefícios da intervenção comportamental; a avaliação de fatores de risco para cada procedimento e, por último, a conciliação de riscos e benefícios com equipe e família. Para Canovas, Cruz & Andrade (2019), faz-se necessário ponderar que, se a intervenção comportamental de forma presencial trouxer mais riscos do que benefícios, os profissionais devem levantar estratégias de manutenção dos serviços à distância e orientações às famílias, utilizando recursos tecnológicos de comunicação. Ferramentas que já eram conhecidas em contexto de supervisão, as vídeo conferências, atualmente se tornam indispensáveis, assim como novos softwares que dão suporte para a coleta e digitalização de dados, como o bHave. Nos casos considerados emergenciais, onde o atendimento presencial é de fundamental importância, precisam ser respeitadas as medidas de distanciamento e o uso de EPIs adequados durante todo o atendimento, além da consultoria de profissionais especialistas na área como, por exemplo, médicos infectologistas (Canovas, Cruz & Andrade, 2019). Salienta-se ainda que os profissionais que atuam com base em ABA devem atentar as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e seguir o código de ética de cada profissão. Medidas de segurança em atendimentos presenciais Para minimizar os riscos de exposição dos atendidos, os aplicadores devem levar o mínimo possível de materiais para os atendimentos, dando preferência ao uso de ítens que já estão no local da terapia. É indicado que folhas de registro e pastas permaneçam nas residências dos atendidos. No entanto, ainda podem ser manuseadas por mais de uma pessoa (terapeutas e familiares), o que requer certa cautela, pois são materiais difíceis de higienizar. Por outro lado, a higienização de equipamentos eletrônicos pode ser feita com frequência, o que diminui os riscos de contaminação. O bHave permite concentrar todos os materiais dos atendidos no celular, fazer registros e visualizar relatórios e gráficos de desempenho ao final da sessão. Sem papel e com o mínimo de cliques, os profissionais levam tecnologia e segurança aos seus atendimentos. Referências CANOVAS, Daniela S.; CRUZ, Maria Tereza M.; ANDRADE, Maria America C. Serviço em ABA para indivíduos com TEA: continuar o serviço presencial em tempos de COVID-19?. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, 2019, vol. 15, no.2, 178-187. Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/rebac/article/view/8771/6251 BRAGA-KENYON, Paula; KENYON, Shawn E.; MIGUEL, Caio F. Análise Comportamental Aplicada (ABA1) – Um Modelo para a Educação Especial. In: Camargos Jr., Walter et al. Transtornos Invasivos do Desenvolvimento: 3o . Milênio. 2 ed. Brasília: CORDE, 2005.  

Terapia ABA em tempos de Covid-19

Terapia ABA em tempos de Covid-19

Em tempos de isolamento social, devido ao Covid-19, clínicas, analistas do comportamento e terapeutas se viram com a necessidade de buscar novas alternativas e desenvolver estratégias para dar continuidade à intervenção baseada em Análise do Comportamento Aplicada (Terapia ABA) com pessoas autistas. Diante do desafio de trabalhar de casa e sem prazo determinado para voltar aos atendimentos presenciais, os profissionais estão adotando algumas modalidades online.   A intervenção baseada em ABA traz excelentes resultados no tratamento de pessoas com autismo e tem como objetivo o ensino de repertórios que são relevantes socialmente, bem como a redução de comportamentos tidos como problemáticos. Tem como característica o ensino intensivo e individualizado, levando em consideração às necessidades de cada pessoa. A interrupção desta intervenção com pessoas autistas pode trazer uma série de prejuízos, como a falta de manutenção dos repertórios já aprendidos ou até mesmo a inviabilidade de criar oportunidades para o ensino de novas habilidades, importantes para o desenvolvimento.  O atendimento remoto como uma nova possibilidade A modalidade de atendimento remoto, como nunca antes experimentada nessa proporção – da aplicação dos programas de ensino à supervisão, aponta para uma mudança de paradigma na prática profissional. A internet tem sido a principal ferramenta de comunicação entre profissionais, atendidos e suas famílias, e as sessões, normalmente realizadas por terapeutas de forma presencial, são feitas por meio de tecnologias de vídeo conferência. Os membros da família, que são essenciais para o bom andamento da Terapia ABA com pessoas autistas, passaram a ter um papel ainda mais ativo durante o processo, ao passo que são treinados pelas equipes de intervenção para aplicar programas de ensino, dar continuidade às atividades acadêmicas propostas pelas escolas e seguir com a rotina da vida diária.  Essa mudança no formato, que se dá pela necessidade da adaptação de analistas do comportamento e terapeutas à nova realidade, aponta para uma real possibilidade de se fazer um trabalho ético, seguindo os princípios fundamentais e responsabilidades de cada profissão, assertivo e consistente, como forma de promover melhorias sociais. Coleta e análise dos dados para tomada de decisão A Análise do Comportamento Aplicada é uma intervenção baseada em evidência científica e, por isso, tem como procedimento a sistematização da coleta e análise de dados. Em meio à essa fase de adaptação, analistas do comportamento e terapeutas devem levantar maneiras de realizar a coleta de forma a preservar a integridade dos dados.  O bHave vem para auxiliar os terapeutas na coleta e digitalização dos resultados. Através de uma plataforma digital (Web e App),  desenvolvida com base na experiência desses profissionais, o bHave conecta toda a equipe e mantém os dados sincronizados, entregando uma mobilidade que potencializa atendimentos à distância. Em supervisão, a equipe visualiza os gráficos de desempenho e detalhes dos atendimentos de forma simples, podendo tomar decisões que mudarão o curso da terapia.  Terapeutas podem continuar a coleta de dados pelo aplicativo, enquanto fazem as orientações aos familiares que estão aplicando os programas de ensino. Desta forma, conseguem manter a integridade dos dados e fazer as correções necessárias para que o procedimento seja aplicado da forma correta. É importante ressaltar que os dados precisam ser analisados por profissionais com experiência na área e os programas de ensino estão em constante modificação, podendo ser ajustados rapidamente no bHave, ferramenta indispensável aos terapeutas como suporte tecnológico para manutenção dos atendimentos.